Família Teatral
Cada um tem seu papel nesta peça sem fim.
Um drama nada romântico,
regado de lágrimas, sangue, desespero, depressão...
que mexe com os sentimentos e os nervos de quem fica para assistir:
A mãe se acha durona, forte, valente, acha que tem o respeito e autoridade para com todos, mas por detrás desta falácia toda - deste autoritarismo todo - está uma pessoa vazia, carente e totalmente dependente dos outros, que não consegue conviver consigo mesmo pois não suporta sua própria companhia e se irrita facilmente se alguém descobre seu disfarce.
Iludida ao extremo, vive em um mundo de fantasias - que ela mesma criou e onde só ela acredita piamente neste - onde acha que as coisas e as pessoas irão mudar e fazer o que ela quiser como num passe de mágica e que ela não precisa se esforçar para que nada mude.
Sempre a culpa é dos outros, o defeito está nos outros, os outros precisam mudar, ela não, ela é intocável, inviolável, quase uma santa em sua mente doentia. Inferno são os outros, como já diziam (mesmo ela sendo o próprio diabo)
O pai que se acha culto, inteligente, mente aberta... descolado com suas ironias cruéis e sagacidade infantil, tudo isto para disfarçar a extrema insegurança em si mesmo, desfazendo dos outros para que ninguém note nele o pseudo-intelectual, ignorante - nos múltiplos sentidos - preconceituoso, machista que se vende por pouco - quase nada, se oferecendo de graça - só para gostarem dele, só para se sentir aceito no grupo, na sociedade, troca a dignidade - que nem tem tanta - e a família por um pouquinho de prestígio, se fazendo de idiota querendo ser o esperto.
O irmão, coitado, ficou o papel de herói.
Tão novo e com o peso enorme nas costas de assegurar a todos que a família vai bem, é saudável e sem problemas.
É nele que estar depositada a auto-estima da família, sobrecarregando-o de responsabilidades excessivamente desproporcional para sua idade e papel na família. Nem imagino o que se passa por detrás deste papel, leva consigo a dor de que nada que ele faça será bom o suficiente para curar a família, mas não pode desistir deste cargo, pois a família depende deste para se sustentar e mostrar para quem estar de fora ver que acertaram.
E eu? Me sobrou apenas o papel de louca: a doente que usa remédio controlado e frequenta psicólogo - mesmo que a mãe também o faça -, isto tudo para que tudo o que eu diga não seja levado a sério, pois sou a única que desmascaro a todos, tirando a dramaticidade e o encanto teatral que esconde o podre por detrás.
Sou a única a jogar a merda no ventilador e encarar de frente os fatos que ninguém mais quer enxergar. Afinal, "Vocês sabem o que significa encontrar-se diante de um louco? Encontrar-se diante de alguém que sacode dos alicerces tudo o que vocês construíram dentro de si, em torno de si, a lógica, a lógica de todas as suas construções!"Luigi Pirandello
Por isto que o papel da desvarada que não sabe distinguir o ilusório do real ficou comigo, afinal, "Num mundo injusto aquele que clama por justiça é considerado louco" Felipe Camino Gallego foi então que "Em meio a tantas verdades mentirosas, escolhi ser louco e viver do meu próprio entendimento." Leonardo Calcerano porque "No mundo que eu vivo, só sendo louco pra agüentar. Se você for são, você pira."Kléber Novartes
Mas a verdade é que o "Louco é aquele que diz que sou louco. Pois assim ele posa de bom moço." Victor Gurgel. É "O pretexto normal dos que fazem a infelicidade dos outros é de quererem o bem deles."Luc de Clapiers Vauvenargues, ou ainda "Louco é o mentiroso que mente para si mesmo e acredita na própria mentira."Anne Caroline Monteiro M. onde só consigo enxergar uma persona -gem neste teatro inteiro.
Mas de todas as definições a que carrego com orgulho é o de:
Mas de todas as definições a que carrego com orgulho é o de:
"Louco(adjetivo): afetado por um alto grau de independência intelectual." Ambrose Bierce
e com esta segurança vou vivendo a peça de teatro familiar que me foi dirigido este papel
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